reticências

A palavra do latim “reticere” significa calar alguma coisa, no sentido de retrair-se para dentro. Não poderia ser mais errado sugerir o seu uso para finalizar aquela frase incompleta que ocupava meus pensamentos e que eu ousei pronunciar em voz alta. Usar os três pontinhos é omissão, é covardia, é aproveitar-se do valor do silêncio para não ter que falar o que realmente pensa.

Jamais seriam o suficiente, não considerei seu uso por nem um segundo durante as horas em que pensei na palavra que faria oposição a aquele “mas” depois da tristeza; isto quando não se havia absolutamente nada de otimista para dizer. E para que tanto?

Se usa reticências para para deixar o sentido da frase em aberto, permitindo uma interpretação pessoal. Acontece que algumas palavras não devem dar margem a interpretação, assim como não se deixa feridas abertas indefinadamente para sangrar até morrer. Não se usa reticências quando se fala de sentimentos.

As reticências são os furos no caráter, os pontos fracos no espírito, as pílulas que engulo a cada dia para esquecer, dormir, morrer. É a sequência de sinais mostrando o feitio ancípite e a falta hombridade que faz fugir dos sentimentos. Não é possível escapar dos pensamentos, se refugiar no silêncio. Cedo ou tarde te encontram e te consomem.

Fiz a pior escolha de palavras possível para terminar aquela frase encalhada, mas a terminei. Foi mais pelo efeito literário do que pelo eu sentia, mas foi um fim do qual eu me orgulho. Nunca me contentaria com a vaguidão das reticências medrosas. É até consolador saber que elas significam calar. Como dizem por aí o cala boca já morreu; e com ele a esperança que finalizou aquela frase também.

Escrevo para mim, porque preciso, porque respiro, porque existo. Quase as mesmas razões as quais porque te amo. E tanto o escrever quanto o te amar, eu não posso evitar. Minhas palavras podem ser doloridas, mas necessárias; elas são filhas da tristeza, mas são mães da esperança. São os sentimentos que transbordam do coração e tomam a forma dessas palavras derramadas sob o papel.