espírito da escada

você é criatura terrível,
um anjo caído a falar sobre deusas,
a encantar com lábia angelical,
a seduzir com poder descomunal.
se faz vítima de um vício,
quando na verdade sou eu,
a cada segundo que passa,
a te desejar intensamente;
em todos os sentidos.

e eu tenho medo dos sentidos,
porque não sou sensata:
se você tiver jeito,
(e você tem)
eu sou o que você quiser.
eu faço o que você quiser.
eu sinto o que você quiser.

e você sabe disso, me provoca:
se aproveita da minha perdição,
do meu desejo por seus beijos;
até eu não me pertencer,
querer mais de você em mim.

e o que mais eu quero de você…?
pois bem meu bem, espero apenas
a chance de poder fazer a você
um tanto do que faz a mim.
em todos os sentidos.
em nenhum sentido.
no sentido que você quiser.

não preciso de título,
não quero anel nem contrato,
para ter a liberdade de, por uma noite,
por todas as noites, para todo o sempre,
ou apenas quando você quiser,
eu ser sua e você ser meu;
numa união celestial,
num descompromisso sério,
num casamento de céu e inferno,
na areia da praia ou no alto da montanha,
aninhada no calor do seu peito,
ou no vazio da sua cama.

e por isso eu te permito,
(não que eu tenha)
tudo o que você quiser
ser, fazer, sentir…
e te peço apenas o seguinte:
não seja aquele exagerado,
não quero um amor inventado.
a sua paixão sincera basta,
já me consome e mata.
e à ela eu me permito,
eu me entrego,
porque veja só o clichê…

meus pensamentos e palavras
encontram apenas a você,
e cá estou eu, entre lembranças suas,
fazendo versos sobre ti, poesia sobre nós,
não sei nem bem ao certo o porque.

isso te diz algo sobre o que eu sinto?
.
.
.

* “Espírito da Escada” é tradução literal da expressão francesa “L’esprit de l’escalier“, que representa o sentimento de pensar em uma resposta quando já se é tarde demais para ela ter alguma utilidade. Acontece quando se encontra a resposta adequada a uma situação apenas depois de ir embora (descendo a escada da tribuna – daí a origem da expressão). O fenômeno é geralmente acompanhado por arrependimento por não ter pensado na resposta no calor da discussão, ou quando ela era mais necessária ou apropriada.