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Eu sou este conjunto vazio, um pedaço de nada cuja existência é mera consequência da evidente separação. O conteúdo que preenchia minha alma esvaiu-se, perdeu-se no emaranhado de lágrimas e rabiscos no papel que representam meu coração machucado. Por isso as minhas palavras andam tão confusas, trêmulas, com tantos remendos quanto borrões salgados que escorrem a tinta do que já foi escrito.

Escrevo para analisar os fragmentos de quem eu era, tentar reuni-los de uma forma coerente apesar dos sentimentos conflitantes que tenho por cada um deles. Mas o vazio que me habita é tão grande que eu sinto que ele pode me engolir por inteiro, por causa dele tenho medo de soltar os sentimentos que latejam no meu peito. Tenho receio que eles me rasguem ao meio e eu fique assim, quebrada, para sempre. Mas no fundo eu sei que é assim mesmo, a única maneira é ser rasgada, ferida, para que tudo saia, para que a minha mente consiga juntar os pedaços que sobrarem e possa tentar fazer algo com eles.

Apego-me as palavras pois elas são parte do pedaço que pode ser salvo. O resto de mim eu já vendi ao inferno na esperança de sentir algo que não fosse esta angústia sufocante que me mata de dentro para fora. Certamente não foi o bastante, já que ainda estou intensamente envolvida no questionamento sobre o que é mais agoniante: se os meus pensamentos que aos poucos me enlouquecem ou o seu silêncio que tortura meu coração.

Quando sinto tamanha aflição, preciso abraçar-me para não desmontar, não ser engolida pelo vazio infinito que tenta com todas as forças me sugar para dentro desse sombrio buraco negro do qual eu nunca poderia sair sozinha. Então eu desejo arrancar você do meu corpo, expurgá-lo do meu coração, sentir uma dor mais forte do que esta que acomete o meu interior.

Mas até mesmo a simples menção à carne que sangra me invocam libidinosas lembranças, de quando os gritos que irrompiam da minha garganta eram do mais puro prazer e o queriam dentro; de quando não representavam o mais profundo desespero por ainda querê-lo, não tê-lo e então querê-lo fora da minha cabeça. Talvez ainda seja assim por muito tempo. Algumas marcas são profundas demais para simplesmente deixarem de existir.

Mesmo que agora eu seja apenas este conjunto vazio, resultado evidente de uma operação que não deu certo, não desisto de procurar meus pedaços entre tantos cacos. Uso estas palavras para juntá-los e colá-los novamente, transformando-me durante este processo no próprio elemento, no produto notável que tenta preencher o vazio abarcante que você deixou em mim.