era uma noite sem lua, encoberta e com neblina, combinando com o meu coração tempestuoso. mil palavras não serviriam para descrever seus olhos ora castanhos, ora esverdeados, a refletir a luz noturna. e eu observo eles repassando mentalmente todo o meu vocabulário, desejando um dicionário de todas as línguas; sua boca.
mas há apenas seus olhos questionadores, e eu não tenho palavras nem explicações para dar. tenho apenas os sentimentos que transbordam do meu corpo: desejo, anseio, gosto, vontade, ânsia, interesse, apetite, atração, fome, sede, fantasia, tentação, fervor… quantas, tantas, palavras. todas incompletas, insuficientes para descrever o que se passa quando me encontro na pupila, me perco na íris dos seus olhos que fogem dos meus.
então a angúsita me derruba, e ela não passa. é uma presença constante no meu peito, é o nó cada vez mais apertado em minha garganta. ela é todas as palavras não expressas, todas as loucuras não realizadas, é todos os beijos não dados, todo o amor não correspondido.
o amor não correspondido: não existe palavras para isto, para descrever o desenho dos seus olhos. e eu enlouqueço, sem drama, sem efeito literário: sem palavras eu enlouqueço. estou sim é com um sério defeito.
“tudo bem?”, você pergunta. e eu ando em círculos, não durmo, não como, obsessão. ligo, não ligo, falo, não falo, escrevo, não escrevo. e não muda, nada muda. obsessão. “sim, tudo bem”, eu respondo.
mas não, não passa. esta angúsita que me derruba, não passa.
eu deito, eu choro, me viro e reviro, eu procuro, eu arranho, eu corto, eu sangro, eu morro, e continua aqui. não passa. e eu saio, eu corro, eu curo e suturo, eu fujo, eu abraço, eu beijo, eu vivo, faço tudo do contra e ao contrário, e não passa.
não passa. sem você, não passa.